O OITAVO SENTIDO
Atualizado: 7 de fev.
O 8º sentido é um dos sentidos mais misteriosos de Saint Seiya. Ele também é chamado de Arayashiki (阿頼耶識), que, por sua vez, vem do sânscrito Alaya-vijnana. É um termo diretamente trazido do budismo.
De acordo com as doutrinas do Budismo, os 6 primeiros tipos de consciência são o que nós conhecemos pelos 5 sentidos básicos (visão, audição, olfato, paladar e tato) e o sexto sentido, que é uma consciência mental e nós entendemos como intuição. Essa descrição também é mencionada no episódio 42 do anime clássico. Hyoga diz: "O ser humano só tem 5 sentidos!" e Shun complementa: "Existe o sexto, que é a intuição".
Após esses 6 tipos de consciência, existiria a auto-consciência. Ela se traduz em Saint Seiya pelo sétimo sentido, que no episódio 42 é dito ser "exatamente aquele que está além dos 6 sentidos". Essa noção de auto-consciência acaba tendo muita lógica no universo da obra, visto que Mu explica que os cavaleiros de ouro são tão poderosos porque conhecem a essência do seu próprio cosmo (capítulo 29).
A oitava consciência no Budismo, o Alaya-vijnana, é a consciência fundamental. De acordo com o Lama Thrangu Rinpoche:
É a base ou fundamento para o surgimento de todos os outros tipos de consciência. É essa clareza fundamental de consciência, ou lucidez cognitiva, que existe desde o início. Como a capacidade para a experiência consciente, é a base para o surgimento da consciência do olho, da consciência do ouvido, etc. Como a sétima, está constantemente presente, constantemente operando, e persiste até a obtenção do despertar final.
Em Saint Seiya, a descrição de Dohko sobre o oitavo sentido no capítulo 83 é a seguinte:
Na filosofia budista, o arayashiki significa "aquilo que está oculto". Algo como a fonte, a origem de todas as coisas. Dito de outra maneira, é uma oitava consciência. É um nível de desenvolvimento do cosmo mais além do sétimo sentido. Nada menos que o oitavo sentido.
Vê-se que tanto no budismo quanto em Saint Seiya se diz que o oitavo sentido é a base de tudo.
O tema central ao redor do oitavo sentido na obra é a possibilidade de se ir para o Inferno com vida. O que ocorre com as "mortes" de Shaka e Atena, quando rumam ao reino de Hades, é que eles conseguiram se manter conscientes no Submundo, ou seja, sem estarem sujeitos às leis de Hades. Conforme disse Shiryu no capítulo 83, Shaka fez com que Atena despertasse o oitavo sentido para que pudesse ir até Hades viva em vez de morta.
Essa é a parte que todo mundo assimila, mas o tema tem algumas nuances. É o oitavo sentido o responsável por fazer os seres humanos se manterem livres das leis de Hades no Submundo? Aparentemente, a resposta é não. Bem, não exatamente.
A explicação que Dohko fornece no anime (episódio 1 de Hades: Inferno) a respeito do arayashiki é incrivelmente resumida. Ele apenas diz que "é o cosmo que vai além do sétimo sentido". Porém, no capítulo 83 do mangá há um detalhamento bem maior sobre o assunto e fornece um entendimento bastante diferente de como o oitavo sentido funciona. Dohko diz:
O oitavo sentido reside em um lugar do cosmo ainda mais profundo do que o do sétimo sentido, e todo mundo morre sem ter se dado conta em momento algum que o possuía. Após a morte de um ser humano, cessa-se a atividade dos primeiros sete sentidos que até então havia utilizado. E naturalmente, quando uma pessoa morre, o oitavo sentido aflora pela primeira vez. É justamente então que aparece o arayashiki, o oitavo sentido.
A informação mais curiosa, e que muitos desconhecem, é a de que todos os mortos despertam o oitavo sentido. Ao mesmo tempo, eles perdem a atividade dos outros sete sentidos.
Isso dá uma outra dimensão diferente para a fala de Shiryu sobre Atena ir com vida ao Inferno. Fica inferido que não é exatamente o oitavo sentido que faz alguém se livrar do domínio de Hades - afinal, todos os mortos o despertam e mesmo assim permanecem sob suas leis. O que diferenciou os cavaleiros de Atena dos demais seres humanos mortos foi o fato de eles terem ido ao Submundo mantendo o domínio dos sete primeiros sentidos. O oitavo sentido funcionaria como uma espécie de "cartão de embarque" para o Inferno. Se alguém o desperta ainda em vida (no limiar da morte), a atividade dos outros sete sentidos não é interrompida e é isso que lhe confere autonomia no Inferno.
Em uma abordagem mais livre, é como se os sete primeiros sentidos estivessem no corpo (carne), enquanto o oitavo sentido estivesse na alma. Os personagens que despertaram o oitavo sentido na hora da morte para ir ao Inferno foram com seus corpos terrenos, enquanto os demais seres humanos que morreram e despertaram o oitavo sentido após a morte chegaram no Inferno apenas com suas almas. Lembrando que o assunto só poderia ser visto dessa forma em Saint Seiya, pois o budismo não acredita em alma - ou, no mínimo, não da mesma forma que o termo é entendido no ocidente.
Interessante notar que despertar o oitavo sentido não exige sua compreensão. Não é necessário saber que a morte não é o fim de tudo para despertá-lo. E isso vale para não só para as pessoas que morrem sem sequer saber que esse sentido existe, mas também para quem consegue o milagre de atingi-lo ainda no limiar da morte. Afinal, Seiya despertou o oitavo sentido ao cair no buraco do Castelo antes de Dohko explicar sobre o arayashiki. E sim, a Enciclopédia comprova que Seiya despertou esse sentido, ao mostrar sua cena caindo no buraco para ilustrar que os cavaleiros de bronze conseguiram essa proeza.
Há também uma discussão a respeito do buraco do Castelo de Hades que leva ao Submundo. Há quem alegue que Shaka e Atena não precisavam morrer, porque bastava pularem no buraco como os demais personagens (Dohko, Seiya, etc.). Supostamente esses outros personagens não morreram. Isso está certo? Aparentemente a resposta é... depende da interpretação.
Teoricamente, é verdade que eles poderiam ter pulado no buraco. O problema é que o buraco mata. Isso é afirmado tanto no mangá (capítulo 83) quando no anime (episódio 1 de Hades: Inferno). De acordo com Dohko: "Os espectros estão protegidos por Hades e por isso podem cruzar com vida de um mundo ao outro. Porém, para um ser humano qualquer, cair neste poço equivale a cometer suicídio, e nunca mais poderá voltar à vida". Dohko pulou no buraco do Castelo e despertou o oitavo sentido durante a queda para poder chegar do outro lado com vida. Se Shaka pulasse no buraco e não despertasse o oitavo sentido, ele simplesmente morreria.
Por um lado, é possível interpretar que a situação de Shaka e a de Dohko são idênticas. Ambos foram acometidos de algo que lhes matariam (receber a Exclamação de Atena e cair no buraco do Castelo, respectivamente), mas puderam chegar ao Inferno com vida porque despertaram o oitavo sentido. Por essa ótica, todos os personagens "morreram" igualmente.
Por outro lado, é possível interpretar que o buraco do Castelo não conta exatamente como um evento mortal (por mais que ele realmente mate), porque ele é mais um portal ou uma passagem. Despertar o oitavo sentido durante a queda faria esse portal se abrir e, portanto, isso não configuraria como morte. Seria diferente do caso de Shaka porque o agente causador da morte - a Exclamação de Atena - realmente o atingiu (ou, ao menos, acredita-se que sim). Por essa ótica, os personagens do Castelo não "morreram" da mesma forma que Shaka e Atena.
Então, fica a critério de cada um. Não que isso faça tanta diferença assim no fim das contas.
Um outro detalhe que gera muita polêmica é se o oitavo sentido está associado a aumento de poder ou não. Há quem interprete que o despertar do oitavo sentido faz o cavaleiro ficar mais forte, porque todo sentido está associado a cosmo e até mesmo a privação de sentidos se baseia nisso. Mas há quem interprete que isso não causou a menor diferença no nível dos cavaleiros, pois eles não demonstraram estar mais poderosos no Inferno do que na Terra. Qual lado está certo? Aparentemente... os dois?
O catalisador da discussão parece ter sido Lost Canvas, em que vimos o despertar do oitavo sentido desencadear diretamente um aumento de poder, como na luta de Sísifo contra Aiacos (capítulo 131). Há ainda a situação de Ilías, que é incrivelmente poderoso e foi visto dominar o oitavo sentido (gaiden do Sísifo).
Em primeiro lugar, o despertar do oitavo sentido na saga clássica realmente exigiu elevação do cosmo. Isso fica nítido quando os cavaleiros de bronze saltam no buraco do Inferno no capítulo 83. Seiya não foi mostrado elevando o cosmo ao cair no buraco no mangá (embora no anime sim, no episódio 13 de Hades: Santuário), mas se ele despertou o oitavo sentido é de se esperar que ele tenha feito o mesmo. Até porque, se Seiya sequer sabia da existência do oitavo sentido, de que forma ele poderia tê-lo despertado se não fosse por decorrência da elevação do cosmo?
Os verbetes arayashiki e oitavo sentido na Enciclopédia Oficial também dão a entender que é um nível de cosmo, corroborando a ideia de que é um cosmo ainda mais acima que o do sétimo sentido.
Na Coleção Tokumori, o oitavo sentido também é tratado como um nível de cosmo. Shion explica que, para despertar as armaduras divinas, não basta apenas o sangue de Atena, pois os cavaleiros precisam "elevar seus cosmos numa dimensão que supera o Arayashiki".
Porém, os personagens que despertaram o oitavo sentido definitivamente não estavam mais poderosos do que o habitual durante o Inferno. Os cavaleiros de bronze não estavam nem no sétimo sentido, ao menos no início. A evidência incontestável disso ocorre na luta entre Seiya e Caronte de Aqueronte, no capítulo 84. Seiya teve dificuldades para superar o remo de Caronte, que girava em mach 18, conforme o próprio Caronte disse. É bem superior à velocidade de um cavaleiro de prata (normalmente de mach 2 a mach 5), mas a velocidade da luz é mach 874.000. Essa informação foi omitida no anime.
Falando no anime, quando Orphée de Lira está tentando matar Hades no episódio 5 de Hades: Inferno, Radamanthys comenta que os meteoros de Seiya estavam mais poderosos do que no Castelo Heinstein. Orphée então explica que isso se deve ao oitavo sentido. Porém, ambas as falas são fillers.
Essa fala de Orphée e a omissão da velocidade de Caronte parecem sugerir que, no anime, o oitavo sentido deixou os personagens mais poderosos no Inferno. Mas no mangá é certo de que isso não aconteceu. Além disso, conforme mencionado, todos os seres humanos mortos despertam o oitavo sentido (outra passagem exclusiva do mangá), e parece claro que isso não lhes confere um poder esmagador.
No entanto, a obra sempre deixou nítido que a elevação do cosmo confere mais poder. Se os personagens precisaram elevar o cosmo além do sétimo sentido para despertar o oitavo, é difícil imaginar um motivo para que essa elevação não confira mais poder a eles. O oitavo sentido em si, como percepção sensorial, nada tem a ver com poder, mas a queima do cosmo para atingi-lo deve fazer o cavaleiro ficar mais poderoso como consequência.
Mas se é preciso elevar o cosmo ainda mais alto que o sétimo sentido para atingir o oitavo sentido, como explicar o nível normal de cosmo dos cavaleiros de bronze no Inferno? Provavelmente é o que que sempre acontece com eles ao despertarem o sétimo. Eles elevaram o cosmo a um nível muito acima do habitual, despertaram o sentido e, tempo depois, voltaram ao seu nível de cosmo normal. Assim como nenhum cavaleiro de bronze mantém seu nível de cosmo do sétimo sentido, nenhum deve ter mantido no nível do oitavo.
Desse modo, não seria realmente necessário estar com o oitavo sentido desperto o tempo todo no Inferno. Basta tê-lo despertado na hora da morte - ou na queda no buraco do Castelo - para que se chegasse ao Inferno sem se submeter às leis de Hades. Seria literalmente um despertar, por um breve momento, e não um domínio constante do oitavo sentido.
Dohko, no capítulo 83 do mangá, explica aos cavaleiros de bronze antes de pularem no buraco: "É possível que, graças à amplitude dos seus cosmos e à ação do sangue de Atena, vocês possam despertar o seu oitavo sentido em um instante". Esse instante é aquele em que cruzam a morte ao caírem no buraco, para chegarem ao Inferno.
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